quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Livre pelos livros!

Mais sobre livros. O que vocês andam lendo ultimamente? Acabei de ler O que o Brasil quer ser quando crescer, do Gustavo Ioschpe. Se você gosta de polêmica, deveria comprar o livro (cujos direitos autorais foram doados para as ONG's Compromisso Todos pela Educação, Fundação Lemann e Fundação Roberto Marinho). A patrulhada de plantão deve achar que o Gustavo adora uma má companhia. Afinal, está ligado a essa turma aí das ONG's e também ao Grupo Abril da VEJA (ao qual Gustavo é tremendamente grato, como se pode ler nos agradecimentos do livro). Não é por nada que o rapaz toma bordoada de todo lado. Mas a verdade é que ele toca em feridas difíceis de esconder e que expõem a terrível qualidade da educação em nosso país. Totalmente baseado em dados empíricos, Gustavo Ioschpe nos mostra, dentre outras coisas, que: 

  1. Apenas 26% da população brasileira entre 15 e 64 anos é plenamente alfabetizada (ou, em outras palavras, apenas 1/4 dos brasileiros consegue ler e entender um texto).
  2. 31% dos alunos brasileiros da primeira série do ensino fundamental são repetentes (perdemos apenas para o Gabão, Guiné, Nepal, Ruanda, Madagascar, Laos e São Tomé e Príncipe). Na segunda série, os repetentes são 20%.
  3. O SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que é um teste do MEC realizado a cada dois anos e que mede a qualidade da educação da quarta, oitava e décima primeira séries, só apresentou índices decrescentes entre 1995 e 2001, para Matemática e Português, com uma subida irrisória em 2003, dentro da margem de erro.
  4. Apenas 25% dos alunos da oitava série sabem que 3/4 é igual a 0,75, e não 3,4.
  5. No PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos com 15 anos de 40 países), em 2003, ficamos em último lugar em Matemática, penúltimo em Ciências e antepenúltimo em Leitura.
  6. A taxa de matrícula no ensino universitário no Brasil raramente ultrapassa 20% (metade do que na Venezuela e Chile e 1/3 da média na Argentina).
  7. O setor público do Brasil não investe pouco em educação (3,4% do PIB; valor comparável à média de 3,5% dos países mais desenvolvidos da Europa, Ásia e América do Norte). Em 2002, na verdade, o Brasil gastou mais em educação do que o Japão e quase o mesmo que a Coreia.
  8. 72% dos professores consideram que a finalidade da educação é formar cidadãos conscientes, enquanto que apenas 9% consideram que é proporcionar conhecimentos básicos e 8% formar para o trabalho.
  9. 55% dos professores discordam da afirmação de que a atividade docente deve reger-se pelo princípio da neutralidade política.
  10. A universidade pública matricula apenas 24,5% dos estudantes de ensino superior no Brasil (1,2 milhão) ao custo de R$ 9,9 bilhões por ano (equivalente à renda anual dos brasileiros, contra 40% nos países desenvolvidos).
  11. Apenas 7% da população universitária do Brasil cursam a pós-graduação (cerca de 100.000 estudantes), o que indica que a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (uma das bases da isonomia salarial) é uma tese difícil de sustentar.
  12. As universidades públicas têm um professor para onze alunos, um funcionário para dez alunos e dois funcionários para cada professor.
  13. Embora frequentemente desvalorizada, a carreira de professor é a mais procurada dentre os estudantes universitários, correspondendo a cerca de 20% das matrículas em todo o país; ficando na frente de Administração e Direito, com um aumento de 40% entre 2001 e 2005. 
  14. Hoje, há ceca de 3 milhões de professores no Brasil. Destes, 58,5% trabalham em apenas uma escola, 32,2% em duas e apenas 9% em três, em jornadas semanais de sala de aula (com uma média de 27 e 37 alunos no ensino fundamental e médio, respectivamente) entre 1 e 20 horas (31%), 21 e 40 horas (54%) e mais que 40 horas (15%).
  15. 13% dos professores da rede estadual de SP faltam a cada dia.
  16. No ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), as escolas privadas atingiram uma média de 56 pontos e as públicas 37, numa escala de 0 a 100, o que equivaleria a notas 5,6 e 3,7, respectivamente, adotada a escala de 0 a 10 comumente utilizada nas avaliações escolares. No entanto, a nota média atribuída pelos pais às escolas de seus filhos no Brasil foi 8,1.
Haveria inúmeros pontos que poderiam ser listados em defesa da tese de que a educação no Brasil vai mal e que isso está muito mais relacionado aos recursos humanos disponíveis do que a investimentos, adicionalmente à políticas públicas de governo (e não de Estado), políticas sindicais corporativistas e formação intelectual deficiente dos pais. O livro fecha com uma receita que parece que vem dando certo num país asiático e que, aparentemente, nega tudo o que vem sendo aplicado no Brasil. Este país conquistou o primeiro lugar do PISA em 2009, com larga vantagem sobre os outros participantes. O avanço econômico desse país foi incrível nos últimos anos e suas políticas educacionais envolveram, dentre outros pontos, a meritocracia e privatizações, numa ousadia que pareceu surpreender boa parte do mundo capitalista ocidental. Trata-se da China, um país comunista e não democrático; portanto, muito distinto dos países da Europa Ocidental e da América do Norte, onde o Brasil comumente busca exemplos de políticas educacionais. Ao que parece, as ações adotadas foram eficientes em lançar a China à competitividade do mundo globalizado condições de igualdade com outras potências mundiais. Tido como um sujeito que defende a direita e a privatização da educação, dentre outros pecados, Gustavo Ioschpe nos oferece o exemplo de um país cujo regime, inacreditavelmente, parece ainda encantar alguns burocratas de Brasília e educadores de primeira linha em nosso país. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não seja tímido! Eu sei que você está tentado a atentar contra esta postagem. Vá em frente. Não resista à tentação do atentado!