segunda-feira, 4 de maio de 2015

Quero me tornar um parasita da sociedade: o que devo fazer?

Você provavelmente começou a frequentar a escola com 1 ano de idade. Cursou o Ensino Fundamental, depois o Médio e ingressou para um curso de graduação de cinco anos numa universidade pública. Você gostou tanto dos últimos 24 anos de escola que tomou uma decisão: quer fazer um mestrado (mais dois anos) e, depois, um doutorado (mais quatro anos), para finalmente se tornar um professor numa universidade pública no Brasil. E passar o resto da vida sendo visto como um parasita que sugou tudo o que podia dos impostos pagos pelo contribuinte. 

Muitos estudantes me perguntam o que é preciso para fazer uma pós-graduação com um mínimo de tropeços. Não há receita, é claro, mas aí vai uma!

1) Escolha um bom orientador. O que é isso?  Tente lembrar de uma situação que você já viveu. Aquela em que você fez uma pergunta a um professor e ele levou um tempão para responder e, no fim, você ainda não havia conseguido esclarecer totalmente sua dúvida. Bem, um bom orientador é o oposto desse cara. Um bom orientador é aquele que levará 10 minutos para responder a uma pergunta que outro cara só responderia em 2 horas! E você vai entender a resposta. A pergunta pode ser, por exemplo: Qual a segunda lei da termodinâmica? E a resposta viria na forma de uma explicação envolvendo entropia e energia, seguida de uma ou duas boas sugestões de leitura onde você mesmo poderia pesquisar mais. Esse é o bom orientador.

2) Escolha um bom tema. O que é isso? Um bom tema é aquele que pode ser resumido em uma e apenas uma pergunta. Em outras palavras, você deve ter uma e apenas uma hipótese a ser testada. Mais do que isso, atrapalha. Isso vai permitir que você construa um projeto bem delimitado, desde que não se deixe levar pelo devaneio explorador de seu orientador (que, neste caso, você teria escolhido erroneamente).  Um projeto bem delimitado tem que ter início, meio e fim e, antes de começar a ser executado, você já deve conseguir vislumbrar como será esse caminho. Logo, ter uma boa hipótese sem ter a mínima ideia de como irá testá-la (isso chama-se método) não é suficiente. Mestrados e doutorados amplos acabam gerando mestres e doutores que sabem pouco de muita coisa, quando o ideal é saber muito de pouca coisa.

3) Escolha uma boa instituição. O que é isso? Não é, necessariamente, uma USP, que tem, idealmente, tudo o que você precisa em termos de recursos para desenvolver o seu projeto. Uma boa instituição é aquela que vai garantir o mínimo de estrutura para você desenvolver seu trabalho, mas que terá vínculos (convênios, por exemplo) fortes com outras instituições. 

O 1, 2 e o 3 aí acima estão associados. O bom orientador é a ligação entre a sua instituição e laboratórios de excelência. De modo semelhante, o bom projeto depende do bom senso do bom orientador (e do seu!).

Umberto Eco escreveu um livreto chamado Como fazer uma tese. Apesar dele ter sido direcionado aos estudantes de graduação da área de Ciências Humanas na Itália, há vários temas no livro (plágio, como evitar ser explorado pelo orientador, dentre outros) que se aplicam a outras áreas. Vale a pena ler.

E não se esqueça: o mundo acadêmico é cruel. Se você conseguir defender um bom mestrado ou um bom doutorado, todos vão achar que o seu orientador é demais, a instituição é muito boa e você é ótimo. Por outro, lado, se algo der errado, o seu orientador vai continuar sendo demais, a instituição continuará a ser muito boa, mas você ...

É isso aí.

Espero que tenham curtido.

Até breve.

Aulas... em teoria!

Eu costumo avisar meus alunos que aulas teóricas são um instrumento medieval. Na Idade Média não havia livros e, por isso, o conhecimento era repassado oralmente. Daí, as aulas teóricas. Muita coisa mudou da Idade Média para cá (bem, na verdade, algumas coisas permanecem para sempre!). Por isso, em várias universidades europeias as aulas teóricas deixaram de existir há muitos anos. Alguém poderia dizer que não temos bibliotecas em condições de atender a todos com qualidade. Pode ser. De qualquer modo, eu acredito que não há professor no mundo que consiga superar o conteúdo de um livro. Veja: não estou discutindo aqui a aprendizagem no ensino fundamental. Estou falando de ensino universitário. Os alunos devem se debruçar sobre livros. Mas se o modelo acadêmico no Brasil ainda acredita em aulas teóricas (até mesmo na pós-graduação!), vamos fazer com que elas sirvam para algo. Mas para o quê? Para estimular os estudantes a buscarem o conhecimento dos livros. Como? Primeiramente, demonstrando nossa paixão pelo tema. O professor precisa ser um apaixonado pelo tema para transmitir sua empolgação aos alunos de modo a que eles queiram saber mais. Se o professor acha que precisa explicar algo, que seja de maneira simples. Viva Descartes! Vamos lá, coleguinhas:

1) primeiro o simples; depois o complexo.
2) divida o problema em partes menores para só, então, atacar o todo.
3) teste exaustivamente (com exemplos, no caso das aulas teóricas!) as possibilidades.
4) mostre que resultados devem ser comparados por diferentes cientistas utilizando diferentes sistemáticas.

Estudantes, embora possam não saber, se encantam com o Método Cartesiano! Condimentado com alguma empolgação de quem está na frente do quadro negro. Caso contrário, ao final da aula há o risco de só sobrar isso mesmo: a escuridão. 

Cecília Meireles nos lembra disso no seu poema Quadro-Negro. 



Demais, não é mesmo?

Até a próxima.

sábado, 2 de maio de 2015

Vingança!

A natureza, em sua imensa sabedoria, nos envia mensagens subliminares. Em meio ao estacionamento de uma universidade, vejam só onde a árvore resolveu estacionar.


Muito legal, não é mesmo? Mas a foto traz um alento, além da mensagem subliminar. Foi permitido à árvore germinar e crescer. Nenhum espírito de porco tentou impedir isso. Isso nos faz acreditar mais nos seres humanos, não é verdade?