sexta-feira, 16 de março de 2018

Stephen e Marielle.

Duas mortes tão diferentes, mas igualmente comoventes.

Stephen Hawking esperava morrer jovem, depois de diagnosticado com sua tenebrosa doença quando tinha 21 anos de idade. Viveu até os 76. Teve três filhos, casou-se duas vezes e foi um dos maiores divulgadores da Ciência no final do século passado e início deste milênio. Contrariando as probabilidades, venceu sua decrepitude física usando o máximo de racionalidade que seu cérebro permitia, aliada a um bom humor que insistia em mostrar ao público (mas não necessariamente entre os íntimos). Tornou-se pop, reconhecido por bilhões de pessoas em todo o mundo. Morreu em paz.

Marielle Franco nasceu pobre e emergiu da minoria que depois defendeu. Tinha o direito de esperar viver muito, mas morreu jovem. Teve uma filha, tornou-se bissexual e uma das maiores divulgadoras das mazelas de oprimidos no Rio de Janeiro, os quais defendia. Contrariando as probabilidades, venceu sua origem humilde usando o máximo de racionalidade que seu cérebro permitia, aliada a um sorriso que insistia em mostrar ao público. Tornou-se política, reconhecida por milhares de oprimidos e cidadãos do Rio de Janeiro e do exterior. Morreu assassinada.

Stephen achava que a sobrevivência da humanidade requeria a colonização de outros mundos. Marielle achava que este mundo poderia ser compartilhado por todos. Stephen não se preocupava com distinções de etnias, gêneros e classes. Marielle não se preocupava com buracos de minhoca e multiversos.

Como as mortes de duas pessoas que viveram realidades e mundos tão distintos nos comovem igualmente?

Talvez, irracionalmente, todos queiramos que Stephens e Marielles não morram porque eles encarnam aquelas qualidades que reconhecemos nos melhores seres humanos. A valorização do conhecimento, da consciência crítica, da resiliência e da preocupação com o outro, seja esse outro toda a humanidade ou o abandonado da esquina. Sem Stephens e Marielles nossas esperanças se extinguem, nos restando, paradoxalmente, as suas ausências para que, de algum modo, nossas esperanças também se renovem.

Que um dia sejamos todos um pouco de Stephen e Marielle.

Até breve.

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