quinta-feira, 8 de março de 2018

Quem viver, verá. Se forem muitos, verão!

E desse destempero as estações
Se alteram, e a geada toda branca
Pinga o vermelho do botão da rosa,
Enquanto que nos cumes mais gelados,
A ironia coloca uma guirlanda
De flores perfumadas. Primavera,
verão, o morno outono e o triste inverno,
Trocam-se as roupas, e um mundo atônito
Não os distingue, nesta confusão.

Reconhecem o bardo inglês? Trata-se de um trecho de Sonhos de uma noite de verão, escrito em 1595-96 por William Shakespeare, em tradução de Bárbara Heliodora. A peça foi feita para um casamento de nobres, não se sabe ao certo quais, e fala sobre ... Ah, apenas leia. Lá você conhecerá Puck e imaginará se seria possível ele ter inspirado o nosso Saci Pererê (Sei enganar cavalo só com o som de relincho de égua; e eu sei, também, me esconder em panela muito bem. E parecer uma maçã assada. E quando a cozinheira esfomeada, me leva à boca, eu faço ela babar ... eis um trecho da fala de apresentação de Puck por ele mesmo).

As recentes confusões meteorológicas em que se envolveu a Cidade Maravilhosa me remeteram ao teatro poético do século XVI. Talvez porque devemos estar vivendo problemas semelhantes àqueles que os cariocas viviam no século XVI, embora mais de 400 anos depois. Ou talvez porque o caráter de nosso alcaide, cuja ironia ou desfaçatez tenta coloca(r) uma guirlanda de flores perfumadas desde os cumes mais gelados da Europa Setentrional (Oi pessoal, tudo bem? Chegamos aqui, na Suécia ... É frio prá chuchu ...), se assemelhe ao de Puck.

Por favor: avisem aos políticos, engenheiros e técnicos e operários das empreiteiras ocupados em obras públicas que vivemos tempos de mudança climática global. Que primavera, verão, o morno outono e o triste inverno, trocam-se as roupas e, portanto, cuidados extras são exigidos de suas competências para que redes de esgotos esgotem adequadamente, rios assoreados não transbordem e ciclovias não desabem. Pois somos o mundo atônito ... nesta confusão, com tecnologias do século XXI nos bolsos e urbanidade do século XVI nos corações e mentes.

No mais, viva o bardo!

Até a próxima.

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