domingo, 6 de outubro de 2013

Geração X: a geração Eike?

Eike Batista, o Mr. X, nasceu em 3 de novembro de 1956, muito próximo, portanto, do limite superior atribuído aos integrantes da Geração X (nascidos entre 1960 e 1980). 

Nos 20 anos que marcam esse intervalo de tempo, o mundo viu surgir os Beatles e os Rolling Stones. Herois e muita heroína, cocaína e anfetamina invadiram as telas e os bastidores de Hollywood. Superman, Star Wars, Deep Throat e o Exorcista brilhavam na telona. Mas veja bem: você tinha menos de dez anos quando os Beatles e os Rolling Stones estouraram, de modo que quem se drogou mesmo nos anos sessenta foram seus pais (os Baby Boomers). Você virou um adolescente pentelho em 1975 e, para seu azar ou sorte, você estava no Brasil. Nessa época, o Brasil vivia o Milagre Econômico e a Ditatura Militar mantinha bunkers de tortura num dos bairros mais classe-média do Rio de Janeiro (Maracanã) e numa das cidades mais europeias do estado homônimo (Petrópolis). Para você, Milagre Econômico era conseguir pagar as passagens de ônibus de ida e volta da escola e ainda conseguir comer um joelho com guaraná no intervalo (o famoso recreio!). Já Ditatura Militar era coisa de comunista e, portanto, algo muito distante da sua realidade classe-média protegida pelos valores morais da tradição, família e propriedade, incluindo uma dose razoável de catolicismo apostólico romano tremendamente reacionário.

Sociólogos, antropólogos e paleontólogos atribuem à Geração X algumas características marcantes, tais como:

1) Busca da individualidade sem a perda da convivência em grupo. No Brasil? Tá brincando... A turminha que fez o DIRETAS JÁ! , em 1983 e 1984, era qualquer coisa menos individualista. Essa rapaziada curtia músicas do Milton Nascimento (Coração de Estudante, Menestrel das Alagoas, dentre outras), leram Karl Marx e Engels nos bandejões das universidades onde apoiaram as primeiras greves dos docentes das universidades nos idos de 1982-3. Nessa época, telefone residencial era um bem declarado no imposto de renda, não havia celulares e internet disponíveis como hoje e a turma se encontrava como nunca, para jantar, beber, tocar violão, jogar conversa fora... a gente realmente se via. Se abraçava, se encontrava, ou seja, convivia em grupo. O carinha que buscava individualidade nessa época era taxado de um filha da puta egoísta e, é claro, acabava perdendo a convivência em grupo. Mas não sem antes o grupo tentar, de todas as maneiras, resgatar a alma perdida do vendido para o capitalismo internacional!

2) Ruptura com as gerações anteriores. Pelo amor de Deus! Que nova geração não rompe com a geração anterior? É o reconhecidíssimo conflito de gerações. Que animal irracional vai querer ser igual ao pai, especialmente se ele for um Baby Boomer típico que acha que... tudo bem se você quer estudar, desde que seja comerciante igual a mim e venha trabalhar comigo quando terminar a sua faculdade de qualquer coisa. Ou que jovenzinha vai querer compartilhar dúvidas sobre sexo com uma mãe que considera homossexualismo, bisexualidade e relações heterosexuais antes do casamento motivos suficientes para enfiar a porrada nos filhos?

3) Maturidade e escolha de produtos de qualidade. Tipo: Pepsi ou Coca? Maconha ou cocaína? Visconde de Mauá ou Trindade? O Brasil sempre foi (e ainda é) um exportador de matéria prima e importador de produtos manufaturados de péssima qualidade. Entre 1960 e 1980 não havia produtos de qualidade no Brasil, que só começou a ver algo parecido com isso com a facilidade para importação de carros depois do desgoverno Collor, no final da década de 1980. Para escolher produtos de qualidade, o brasileiro das décadas de 1960 e 1980 fazia a mesma coisa que o brasileiro faz hoje: viajava para Miami. E, sinceramente, qual é a relação intrínseca entre maturidade e escolha de produtos de qualidade? Qualquer moleque imaturo de 10 anos sabe a diferença entre um carrinho de controle remoto importado dos EUA e um importado do Paraguai. 

4) Maior valor a indivíduos do sexo oposto. Deve ser por isso que, a partir desta geração, começou-se a construir a consciência crítica que levou, muitos anos depois, à criação da Lei Maria da Penha. Que aliás, segundo estatística recente do IBGE, não diminui os casos de violência contra a mulher no Brasil. Vai ver que os pesquisadores tentaram escrever Maior valor ao sexo com indivíduos opostos. Neste caso, a frase original poderia trazer uma mensagem subliminar politicamente incorreta e homofóbica. Quem sabe...

5) Respeito à família menor que o de outras gerações. Papo furado. A minha geração (1960-80) se casava antes dos 25 anos e partia para o mundo. Isso é que é respeitar a família, porque ninguém, em sã consciência, quer ficar sustentando filho ou filha vagabundos com 40 anos dentro de casa. Saindo de casa, a gente tinha que arrumar um trampo (ou seja, trabalho), e acabava contribuindo para a feira dos pais nos fins de semana. Os presentes nos dias dos pais e das mães também melhoravam, os restaurantes lotavam com filhos rachando a conta com os pais. E a gente continuava se encontrando mais, porque ainda não havia toda essa parafernália eletrônica que estimula os encontros virtuais. É claro que a porrada geralmente comia, mas isso não tem nada a ver com desrespeito. Era o já comentado conflito de gerações, ou seja, algo totalmente natural e esperado.

6) Procura da liberdade. Em sã consciência: que geração iria procurar o cativeiro ao invés da liberdade?

Então, o que há de errado na categorização das gerações, tomando-se o exemplo da X? É que ela é importada. A tentativa de enquadramento de gerações com culturas e histórias tão distintas ao redor do mundo chega a ser patética. Ou faz parte de uma ação padronizadora, ou seja, do enquadramento de todos segundo um padrão. Parece uma elaboração de comportamentos ditados pelo padrão, neste caso, norte-americano. Estupidez ou conspiração, espero que dê tudo errado. Mas será que vai dar errado? A gente volta a discutir isso no próximo capítulo das gerações. Vem aí, os Y!

O que o Eike Batista tem a ver com a geração X? A letra X, porra! Quando ele escolheu a letra X para nomear seus empreendimentos (semelhantemente à escolha da mesma letra pelos acadêmicos que criaram o termo Geração X!) se esqueceu que ela sinaliza a multiplicação, mas também é o risco que costumamos fazer quando achamos que está tudo errado (do jeito que o professor faz na sua prova, antes de dar zero, por exemplo). Ou seja, categorizar a geração X, isto é, achar que todo mundo nascido entre 1960 e 1980 partilha das mesmas características, mesmo que gerais, é o mesmo que achar que X só significa multiplicação. E toda aquela rapaziada da geração X que ele tirou da PETROBRAS a peso de ouro, ou já pulou fora ou vai ser mandado embora. Uma pena. Vários deles são meus amigos e são realmente competentes! Mas, infelizmente, X também pode significar ... riscado do mapa!





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