domingo, 29 de março de 2015

De volta ao Y da questão!

Olá, fiéis leitores.
Estou de volta. De volta à frequência de minhas postagens (1 por trimestre).
Mas volto, também, para retomar um assunto sobre o qual já escrevi antes: a geração Y.
Se você esqueceu, eu lembro: a geração Y é formada pelas criaturas que nasceram a partir da década de 1980. Eles foram precedidos pela geração X (nascidos entre 1960 e 1980 que, por sua vez, foi precedida pela geração baby boom, nascidos no pós segunda guerra mundial) e sucedidos pela geração Z (nascidos já no século XXI). Aí, as letras do alfabeto acabaram e eu achei que o assunto tinha terminado. Assim, qual não foi a minha surpresa ao ler em O GLOBO de hoje (domingo, 29 de março de 2015, Caderno Boa Chance) uma matéria sobre os Y no Brasil. Alguns números que aparecem na matéria:

1) cerca da metade é homem, o que faz da outra metade mulher (não entremos nos detalhes LGBTs, por favor).
2) a maior parte deles tem, hoje, entre 21 e 25 anos. Logo, os que fizeram um curso de nível superior estão do meio para o fim da graduação.
3)  a maior parte (cerca de 1/4) reside em SP. MG tem 10% dessa turma. O RJ tem 6%. O nordeste tem entre 6% e 8% e os estados da região sul têm uns 5%. Na região norte, eles são 4% (dados somente do PA).
4) uns 40% ainda estudam em horário integral ou parcial e uns 15% não começaram a trabalhar desde que se formaram. Uns 20% entraram no mercado há menos de um ano e outros 20% trabalham há mais de 2 ou 3 anos.
5) 30% trabalham em horário integral e 9% ainda estão no primeiro trabalho. 
6) 30% gostariam de um emprego que envolvesse muitas viagens. 
7) 99% (uau!!) estudam ou têm planos de aprimorar os estudos.

Calma... tem mais.

8) um pouco mais da metade acha que o chefe ideal deve ser tipo um monitor, enquanto um pouco menos que isso preferiria ter um líder como chefe. Mas 40% gostariam de um chefe confidente (ai!!!) enquanto cerca de 20% prefeririam um chefe amigável ou conselheiro (vige!!!). Só 6% gostariam de ter um chefe muito exigente.
9) cerca da metade valoriza um emprego que dê oportunidades de desenvolver e aprimorar suas habilidades, e um mesmo número de Y quer ser apreciado e valorizado. Metade também valoriza um emprego que dê retorno financeiro, mas só 1/3 valoriza um emprego que lhes dê a sensação de ter feito uma contribuição positiva.
10) cerca da metade dos Y escolhem empresas pelos benefícios oferecidos, pela oportunidade de crescer rapidamente e pelas oportunidades de treinamento e desenvolvimento. Cerca de 1/3 escolhe empresas que dêem oportunidade de continuar os estudos.

A pesquisa foi feita pela Hays Recruiting Experts Worldwide.

Então, vamos ver se o velho X aqui entendeu. O chefe tem que ser uma babá, confidente e amiga e, assim, não deverá exigir muito. O Y entrou na creche com 1 ano de idade e se formou com 22 anos, ou seja, ficou mais de 20 anos estudando. Mesmo assim, não estão preocupados em entrar no mercado porque gostariam de continuar estudando para aprimorar habilidades que, não testadas no mercado, eles nem sabem se têm ou se não têm. Mas trabalhar não é problema, desde que eles possam viajar muito, ganhar bastante dinheiro, continuar estudando e serem apreciados por tudo isso, sem, necessariamente, terem contribuído positivamente para a empresa em que trabalham, para o país ou para a sociedade. 

O que me parece é que trata-se de uma geração muito narcisista e sem autocrítica. Há uma falácia no mercado de que os Y vivem em busca de novos desafios, mas eu acho que são desafios do tipo chegar no prédio do outro lado da rua! A matéria ratifica, em parte, essa minha observação quando descreve os Y como (sic) ... ansiosos, individualistas, impetuosos ... rejeitam a ideia de fidelidade a uma só empresa durante a carreira.

Os Y são hoje 40% da força de trabalho no Brasil. O sócio-diretor da consultoria de RH Unique Group, Gustavo Costa, acha que a geração Y (sic) ... é formada por uma turma de profissionais ágeis, multitarefas e, acima de tudo, inovadores. Como uma tia minha que nasceu morta costumava dizer: quequéisso????

Está na hora desse pessoal de RH começar a discutir o que é agilidade, capacidade de introspecção e inovação. Como alguém espera que um sujeito seja inovador se ele não consegue se concentrar no problema que exige inovação (o cara é multitarefa, faz 8 coisas ao mesmo tempo, todas mal.)? O que é ser ágil? É fazer tudo rápido e superficialmente, ou encontrar, muito rapidamente, uma solução para um problema inesperado (pergunte a quem já esteve frente a frente com um rinoceronte e decidiu correr ao invés de subir numa árvore)?

A matéria continua (sic): A geração Y não faz nada por fazer. Quer encontrar sentido em tudo, deseja encarar o trabalho como um momento de prazer. São jovens extremamente engajados, mas podem ser muito distraídos, caso não tenham motivação, segundo André Luiz Dametto da ALD Consultoria. 

Não há coerência ou lógica nisso tudo. O Y não faz nada por fazer, mas faz se lhe interessar e, não querendo se esforçar (lembram... chefes monitores, amigos e confidentes; nunca exigentes) é engajado!!!!!! Engajado no quê? E, se alguém quer encontrar sentido em tudo, está, por princípio, perdido, porque jamais alcançará esse objetivo. Isso é se concentrar na árvore e não perceber a floresta por detrás (someone that can´t see the woods thru´ the trees, como no ditado inglês). O cara vira um chato!

Finalmente (isso já está demasiadamente longo, eu sei), a Google América Latina tem uma política de gestão que tem como lema manter funcionários produtivos e felizes. 

O que eu concluo disso tudo?

1) Que os departamentos de RH das empresas estão cheios de Y contratando outros Y.
2) O salário é uma compensação pela sua saúde que, a cada ano de trabalho, se deteriora progressivamente. Logo, você pode até gostar do que faz, mas se acha que não está esculhambando com a sua saúde física e mental enquanto trabalha, você é patético. Por isso, na próxima entrevista, diga ao cara do RH que você, um Y típico, ficará satisfeito em trabalhar só pelo salário indireto, já que terá muito prazer em fazer somente aquilo que lhe dê vontade.
3) Os Y darão um chute no traseiro do chefe amigável e confidente assim que encontrarem um outro emprego em que tenham mais vantagens.
4) A Google América Latina e a maior parte das empresas hoje no mundo que adotam políticas de gestão heterodoxas só vão manter funcionários felizes enquanto eles forem produtivos. Se você fica feliz em engolir comidinha industrializada em carrinhos nos corredores a cada duas horas, beber café forte a cada meia hora, descansar em salas anti-stress em intervalos regulares, participar de laboriais, obter licença paternidade, pagamento de horas-extras e participar de workshops de uma semana em lugares paradisíacos onde não se decide nada, não precisa se preocupar com produção. A empresa só está lhe propiciando tudo isso porque você, mesmo não sabendo, já está produzindo. O que você também não sabe é que esses momentos felizes são momentos de sedentarismo, isolamento (entrar numa sala anti-stress com o celular não vale, Sr. Y. Mas você consegue?) e, por mais paradoxal que possa parecer, de stress. Porque ninguém produz muito sem stress. Aliás, é por isso que você recebe um salário (a compensação pela esculhambação da sua saúde!). E, se em algum momento, você se tornar improdutivo e for pedir conselhos ao chefe monitor, amigável e confidente, porque já está sob os efeitos de uma síndrome do pânico ou depressão, adivinha: ele vai ser tão traíra quanto você, pensar somente nele mesmo, e vai lhe dar um belo chute no traseiro.

Por favor, Y: acordem. O mundo é maior que o umbigo de vocês. É humilhante ser tipificado da maneira como vocês estão sendo. O mundo é, também, bonito, e está precisando que mais gente engajada. Por ele e pelos outros seres humanos. Porque de gente engajada por si mesmo, o mundo já tá cheio!

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