domingo, 9 de novembro de 2014

Brazil!

Acabei de ler um livro que é uma coletânea de ensaios de um escritor sobre um país que ele considera antidemocrático. O escritor considera que o país, onde ele nasceu, tem uma política imperialista baseada na guerra como estratégia de sustentação de poder hegemônico. No início deste século, o presidente daquele país, filho de um ex-presidente, conseguiu eleger-se com apenas 24% dos votos válidos. É que, nesse país, a decisão pelo voto popular precisa ser referendada por um colégio eleitoral formado por nove juízes. Na época, Júnior foi eleito por cinco votos a quatro. Boa parte dos votos de um dos estados daquele país não foi contada dentro do prazo de apuração. Milhões de votos ficaram sendo transferidos em caminhões, de um lado para outro, até que não pudessem ser mais computados. A contagem, após o pleito, solicitada por opositores ao eleito, não pode ser feita porque, aparentemente, aqueles milhões de votos foram destruídos logo após a eleição (como manda a regra). Eram votos das comunidades mais pobres do estado, povoada por negros e hispânicos. O governador do estado era irmão de Júnior. 

Este país antidemocrático tem um congresso corrupto, que atende aos interesses de lobistas das empresas cujos donos representam 1% da riqueza nacional. São empresas que ele chama de polvo, porque possuem tentáculos em vários ramos de atividades, desde energia até veículos de comunicação em massa. Utilizando esses últimos, essas empresas manipulam informações para os ignorantes habitantes daquele país, cujo currículo escolar teve excluídas disciplinas como História e Geografia. Os lobistas garantem que o congresso aprove leis de um executivo também corrupto e intimamente ligado às empresas. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial os congressistas daquele país vêm aprovando emendas constitucionais e leis que permitem adotar regimes de exceção para garantir a defesa dos interesses nacionais contra ameaças estrangeiras, em especial, ameaças terroristas. Um aval para a guerra e invasão de países fracos e indefesos. Nada a ver com os interesses das empresas representadas pelos lobistas, como construção de oleodutos entre os depósitos de petróleo do Mar Cáspio e portos com petroleiros capazes de distribuir óleo e gás por toda a Ásia, creem os habitantes daquele país antidemocrático.

Ainda bem que eu vivo no Brasil. Aqui, não copiamos nada que vem de fora. Por isso não corremos o risco de, replicando o mau exemplo daquele país antidemocrático, acabemos com um congresso corrupto pelo qual o povo não se sente representado. Não corremos o risco de termos que pagar uma fortuna para empresas de saúde ao invés de podermos usufruir de um sistema de saúde pública eficiente. Não corremos o risco de pagar altos tributos para sustentar uma força bélica capaz de destruir o planeta várias vezes seguidas. Que bom que eu vivo no Brasil. Caso contrário, poderia viver num país que manipula resultados de eleições até o último segundo, com telejornais cujos apresentadores coram de vergonha depois de notarem que não elegeram seus candidatos a despeito de toda mentira enfiada goela abaixo pelos principais veículos de comunicação em massa. Que bom saber que, no Brasil, pagamos impostos na medida certa para sustentarmos uma educação pública de qualidade, sem termos que apelar ao recurso de cotas (como naquele país antidemocrático) que divide a população entre nós e eles. Não! Ao invés disso, garantimos o acesso de todos, independentemente de raça, orientação sexual dos pais e classe econômica, a um ensino fundamental e médio que nos coloca entre os primeiros do mundo em testes internacionais e dá acesso ao ensino superior tendo como critério exclusivo o mérito.

Viver no Brasil é bom. Naquele país antidemocrático, até 1965 brancos e negros não podiam beber água no mesmo bebedouro, nem ocupar os mesmos bancos em ônibus públicos. Já aqui, nos misturamos há 500 anos, produzindo homens e mulheres belíssimos, com ninguém se achando realmente 100% negro ou 100% caucasiano. Podemos, alegre e livremente, contar piadas sobre lusoascendentes e afrodescendentes, bem como de judeus, mulçumanos e papagaios. A convivência mútua nos ampliou a tolerância. Espero que isso não mude nunca e que nosso país, via esquerda ou direita, não acabe se tornando antidemocrático como aquele retratado no livro que acabei de ler. Seria horrível acabar tendo que viver num país chamado... sei lá: Brazil!

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