domingo, 12 de janeiro de 2014

A firma!

Lembra desse filme, com Tom Cruise? Claro que não. Mas eu lembro; afinal adoro thrillers.
Multinacionais, transnacionais, corporações, tudo isso era tema de amplo debate nas décadas de 1960 a 1980 dentre os jovens brasileiros. Mas tudo isso foi devidamente enterrado pela globalização. Mas há quem resista. E foi por isso que me chamou à atenção o livro A corporação que mudou o mundo, de Nick Robins. O livro trata da historicamente conhecida Companhia das Índias Orientais. Depois do ensino médio, eu só me lembro de a ver mencionada em Piratas do Caribe. Mas, até a leitura deste livro a John Company, como era chamada, sempre me pareceu algo obscuro na história mundial.
Ela foi criada em 31 de dezembro de 1600 e funcionou por cerca de 250 anos. Seu comando foi dividido entre a City (o centro financeiro) de Londres e Bengala, na Índia. Teve competidoras à altura, de sangue holandês e francês. Mas foi a John Company, britânica, que se constituiu na corporação mais inovadora, empreendedora e sanguinária que o mundo já conheceu. Inundada por corrupção e comandada por diretores avarentos, ambiciosos e amorais, ela levou boa parte da Índia à miséria, fome e morte que se estenderam até o século XX e que, muito possivelmente, ainda deixam cicatrizes à mostra nos dias atuais. A companhia deteve o monopólio das especiarias do oriente por quase dois séculos, tinha seu próprio exército e, a partir de meados do século XVIII passou a ter o direito de cobrar impostos em territórios indianos. Ela dominou o comércio da pimenta, do sal, do salitre e, mais tarde, do chá e do ópio. Financiou uma guerra entre a Grã-Bretanha e a China. Criou e destruiu reinos indianos, manipulando seus nababos (reis) como marionetes à serviço da pilhagem e da exploração total. Promoveu debates reincidentes no Parlamento, envolvendo ideias de homens do porte de um Adam Smith e de um Karl Marx, e gerou conflitos que variaram desde batalhas que causaram a morte de milhares de indianos até um patético duelo entre dois de seus diretores.
Nick Robins escreveu o livro porque acredita que a história da companhia não deve ser esquecida. Ela deve ser lembrada nos dias atuais, quando grandes corporações, em pleno século XXI, ainda continuam a atuar pelos mesmos princípios (ou falta de princípios) que moveram a John Company. Nick, quase que utopicamente, acredita ser possível criar e manter corporações que atuem segundo rígidos princípios éticos e morais. Particularmente, discordo. No final, o que conta mesmo é o interesse dos acionistas. E é por isso que iremos continuar a ingerir as porcarias que nos oferecem todos os dias, e que iremos manter nossa apatia diante de uma África que serve a experimentos da indústria química e farmacêutica, e que continuaremos a não nos importar com os diamantes de sangue que brilham nas ricas vitrines, ou com as águas e ares poluídos pelos resíduos tóxicos de nossos combustíveis fósseis, etc, etc, etc... Quantos são os etc!

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